domingo, 26 de julho de 2015

O CAVALINHO BRANCO





Era uma vez um cavalinho branco. Mas não era todo branco o cavalinho branco. Tinha estrelas azuis, muitas estrelas azuis espalhadas por todo o corpo e uma estrela maior no lugar do coração. Era um cavalinho branco às estrelas azuis.

Roda, roda, roda
na grande roda o cavalinho.
Roda, roda, roda
Corpo de estrelas, flor no focinho.
Não seria bem uma flor, mas quase. Parecia mesmo uma flor. Só um cavalo especial, um cavalo raro, pode assim mostrar uma flor no focinho e tantas estrelas azuis pelo corpo todo.

Este era um cavalo especial, um cavalo de carrossel.

Não andava contente com a sua vida, o cavalinho branco às estrelas azuis. Aquilo de ter de fingir que trotava, sempre à roda, sempre à roda, aborrecia-o. O barulho da música gritada pelos altifalantes e as vozes dos homens que apregoavam farturas e as luzes que baloiçavam dos fios e tremiam, tremiam, e o carrossel, dia e noite, a rodar, a rodar, mais uma volta e mais outra e outra — uf! — punham a cabeça do cavalinho branco também às voltas.


— Não aguento mais estas tonturas — dizia o cavalinho branco. — Vou mudar de vida.

E mudou.

Correu pelos campos, saltou valados, chapinhou nos regueiros e bebeu a água fresca das fontes. Bem bom.

Mas um cavalinho branco às estrelas azuis, para mais em liberdade, acaba por dar nas vistas. Foi o que lhe sucedeu.
Um senhor de grande bigodes retorcidos, botas de montar e chapéu alto, como já ninguém usa, viu-o, uma vez, e gritou-lhe de longe:

— Eh, cavalinho, queres um torrão de açúcar?

Ele queria e veio buscá-lo. Então o senhor que usava botas de montar fez-lhe uma festa no pescoço e disse:

— Anda comigo que, mais logo, quando chegarmos ao circo eu dou-te o açúcar…

Lá foram, o cavalinho num trote curto de cavalinho bem disposto e o senhor de bigodes retorcidos a retorcê-los ainda mais, muito sisudo.

Quando chegaram ao circo, o senhor dos bigodes meteu o cavalinho numa espécie de jaula e disse-lhe assim:
— Logo, quando terminar o espectáculo, se tudo correr bem, dou-te o torrão de açúcar.

Um dos números mais aplaudidos do espectáculo era o do ilustre cavaleiro Arnaldo de Aguinaldo e os seus cavalos amestrados. Os cavalos emplumados e de arreios dourados trotavam à volta da pista, saltavam ao arco, dançavam ao som de uma valsa e ficavam muito quietos, como se fossem estátuas, quando o ilustre cavaleiro Arnaldo de Aguinaldo fazia estalar o chicote, de certa maneira. Eram, aqui fica dito, cavalos muito bem mandados.

Nessa noite, havia um número novo, um cavalinho engraçado, que o domador Arnaldo de Aguinaldo esperava que viria a ser a “estrela” mais brilhante da companhia. E com razão, pois então! Sim, porque não fazia sentido que um cavalinho branco, com o corpo coberto de estrelas, não fosse a “estrela” maior da companhia…

Dava gosto vê-lo, ao cavalinho, a trotar à roda, à roda, sempre à roda da pista, e o senhor cavaleiro Arnaldo de Aguinaldo no meio, de braços abertos, com o chicote numa das mãos e o chapéu alto na outra, como se quisesse dizer: “Admirem, excelentíssimos senhores, as maravilhas que eu tenho para mostrar. Isto vale ou não vale o preço de um bilhete?”

Roda, roda, roda
roda que roda num redemoinho
roda, roda, roda
finge que voa o cavalinho.

Pois fingia, realmente, mas não voava. Que triste sina esta a do cavalo branco às estrelas azuis. Não bastavam as voltas que tinha dado, e tantas, no carrossel?

Noites e noites rodou, trotou, dançou na pista do circo… Até que um dia se fartou.
— Chega — disse o cavalinho e pôs-se a andar de ali para fora.

Nem o torrão de açúcar, sempre prometido, sempre adiado, foi reclamar. Dali não levava nada.

Voltou a correr pelos campos, a saltar valados, a chapinhar nos regueiros… Que bom!

Mas, ao que dizem, o que é bom não dura sempre… Um dia, um lavrador que o vira saltar para dentro da herdade, correu atrás dele e, com algum custo, prendeu-o a uma nora. Mas primeiro tomou o cuidado de lhe tapar os olhos com uma venda.

— Por causa das tonturas — explicou ele.

Isso que fazia? Tanto já o cavalinho tinha andado à roda, que se tinha curado das tonturas. Do que não gostava era de andar sempre a pisar o mesmo caminho. Não haveria outro emprego para um cavalo branco com estrelas azuis?

Roda, roda, roda
na giga-joga o cavalinho
roda, roda, roda
e sempre à roda mói o caminho.

Talvez fosse possível arranjar outra profissão mais agradável. Qual seria? Deu voltas e voltas e decidiu desempregar-se mais uma vez, sem dar contas a ninguém. Libertou-se da nora, nem sabemos como, e tomou por uma estrada que a algum sítio devia levar.

Pelo mesmo caminho ia um cavalo castanho a puxar uma carroça.

“E se eu fosse também um cavalo de carroça?”, pensou o cavalinho branco às estrelas azuis.

Olhou para o cavalo castanho e viu-o tão triste e tão atormentado pelas moscas, que desistiu.


Em sentido contrário vinha um esquadrão de cavalaria da Guarda Republicana. Que lindos cavalos e que imponentes cavaleiros! “E se eu fosse atrás deles?”, lembrou-se o cavalinho.

Mas o suor escorria do pescoço dos cavalos. Era de tanto terem galopado. E — reparou ainda o cavalinho — as estrelas de metal que os cavaleiros traziam nas botas deixavam um rasto sangrento na barriga dos cavalos. Chamavam àquilo as esporas…

“Ah, sendo assim já não vou”, decidiu o cavalinho branco às estrelas azuis.

Continuou o seu caminho. Foi ter a uma cidade e a um grande largo onde um cavalo de bronze reluzia à luz do sol.

O cavalinho, ao vê-lo, exclamou:

— Ora aqui está um emprego que me calhava. Ninguém nos incomoda e, uma vez por outra, até nos tiram um retraio.

Respondeu-lhe, de cima do seu pedestal, o cavalo de bronze:

— Nem penses nisso. Estou aqui à chuva e ao sol, todo o tempo, e com uma pata no ar, sempre na mesma posição, a fingir que ando, mas não ando, e tu ainda achas que o emprego é bom!? Sonha com outra coisa, mas nunca queiras ser estátua.
Então que havia ele de ser? Sim, que modo de vida podia convir a um cavalinho branco às estrelas azuis?

Deu voltas à cidade, deu voltas à cabeça e, por fim, mirando a montra de uma casa de brinquedos, descobriu a sua vocação — iria ser cava­lo de brincar. Postou-se à porta, ao lado dos cavalos de pasta e dos cavalos de madeira e esperou que alguém o quisesse levar. Não esperou muito.


O cavalinho branco às estrelas azuis anda agora nas suas sete quintas. É, agora, cavalo de baloiço, cavalo de balancé… Emprego melhor não conhece. Finge que é cavalo de carrossel, cavalo de carroça, cavalo da Guarda, cavalo de circo, mas é apenas um brinquedo nas mãos de um menino. Bem bom.

Autor: António Torrado

DINO ESPERTO




Existia um dinossauro.
Ele se chamava Veloci.
Ele era muito esperto!
Quando dava algum problema no reino dos dinossauros era Veloci que resolvia!
Um dia, o 1º ministro do reino, o Estegossauro, avistou uma bola de fogo caindo do céu!!!
Mas estava muito, muito, muito, mais muito longe!!!
Mas mesmo assim, ia cair algum dia!
A notícia se espalhou pelo reino, o rei, o Tiranossauro, disse pro 1º ministro acalmar o povo.
E isso foi difícil!!!
Ele precisou da ajuda do 2º ministro,  o Elasmossauro, para conseguir acalmar o povo!!!
E quando Veloci soube disso, já começou a pesquisar uma solução pro problema.
Ele pesquisou, pesquisou , pesquisou, até que ele achou!

Ele disse pra todos os seres do reino que ele ia construir uma bola de pedra do mesmo tamanho da bola de fogo, lançar ela com um canhão, as duas iam se bater e iam mudar de rota para outra galáxia!!!
Todos gostaram do plano!!!!
Quando ele foi feito, deu exatamente como Veloci queria!!!!
E o reino dos dinossauros ficou em paz de novo...

Autoria: Neno

ESCULTURAS DE BRUXAS













FEARLESS













sexta-feira, 10 de julho de 2015

FIAR DE CORES



Era uma vez um fio de nylon que vivia infeliz por ser incolor.
Todos os dias desejava ser como os fios de lã que ficavam guardados na caixa de bordado.
Lá havia miçangas de várias cores, alfinetes com cabeça de acrílico colorido, agulhas douradas e muitas outras maravilhas multicores.








Mas ele , de longe, ficava a sonhar com aquele ambiente multicor.
Muito tempo se passou e o fio de nylon percebeu que sua história de vida era longa, enrolado naquele carretel contido, por muito tempo, na caixa de pescaria, enquanto as miçangas e fios de lã já não viviam em sua antiga caixa de bordado.
 
Todos viviam agora nas toalhas de rosto e banho, nos panos de pratos e nas roupas utilizadas pelas pessoas que moravam naquela casa:uma bordadeira, um professor e seus filhos.
 
 
 
Um dia, percebeu que a casa acordara agitada e feliz.
 
 
 
 
 
 
 
Estavam todos de férias e iriam passar uma temporada na praia.
 
 
 
 
 
O professor logo pegou sua caixa de pescaria, pois ensinaria os filhos a arte de pescar.
O carretel sentiu-se retesado e preparado para enfrentar uma nova etapa de sua vida e notou, ao mergulhar, como era importante que ninguém o enxergasse naquela nova missão submarina.
 
 
 
 
Conheceu uma maravilha jamais vista por ele: era um mundo multicor, onde fez novos amigos e ficou fascinado com o fundo do mar.
Lá, havia formas e cores muito originais e extasiantes.
 
 
 
Passou a ter sonhos e se sentir muito importante. Afinal, ouvia todos os dias o professor alertar os filhos:
- Não esqueçam de pegar o carretel de nylon, pois sem ele não haverá pescaria.
 
Ao retornar a casa, percebeu que as toalhas e roupas bordadas estavam muito gastas e desbotadas.
As lãs partiram alguns fios, as cores desmaiaram com as lavagens e muitas miçangas estavam deformadas com o calor do ferro.
 

Assim, foram logo colocadas na gaveta de peças gastas.
 
 
Mas o carretel de nylon, que residia na caixa de pescaria, bem próxima à gaveta, descobriu um novo ofício e passou a narrar sobre a beleza do fundo do mar, os novos amigos adquiridos e a importância de ter conhecido anteriormente as lãs e as miçangas, pois foram elas que lhe ensinaram as cores que há na natureza. Falou-lhes de todas as cores encontradas no fundo do mar e Relatou-lhes que no fim do dia, as cores da natureza desbotam para que todos possam descansar em paz.
O desbotar das cores é um presente abençoado por Deus.
 
Contou-lhes também que o vento, o cheiro da maré, o canto da gaivota e o gosto do sal são inteligentemente transparentes, para que os homens possam ver com outros olhos que não necessitam da visão.
 
 
No fiar das histórias, todas as tardes, descansavam em paz as lãs e as miçangas com suas cores desbotadas  e o carretel de nylon que aguardava pacientemente por um novo momento de pescaria.

E assim, o tempo corria lentamente, entre cores suaves e a transparência
da beleza de viver...